O Brasil acompanha uma mudança no cenário socioeconômico com cada vez mais pessoas pretas empreendendo. Dentro desse grupo, 52% são mulheres. Somente 35% das mulheres brancas empreendem por necessidade, enquanto esse caso é a regra para 51% das empreendedoras negras. Apenas 21% das mulheres negras possuem CNPJ, número que chega a 42% entre empreendedoras brancas.

Mulheres negras empreendem e fazem a diferença

Os números mostram que mulheres negras são potências criativas que sofrem por falta de oportunidade, pela distribuição desigual de renda e pelo racismo. A combinação deste fatores criam barreiras para pessoas negras terem seus próprios negócios, contudo, elas estão em todos os ramos, abrindo espaços e apontando caminhos para quem vier. Um exemplo a ser citado é Ketty Valencio. A bibliotecária idealizou a Livraria Africanidades após constatar a sub-representação de pessoas pretas em obras literárias. A livraria é especializada em literatura afro-brasileira e também promove em seu espaço debates sobre temas que conversam com a comunidade negra.

A Rede de Profissionais Negros (RDPN) tem entre suas fundadoras Lisiane Lemos. Ela que já foi eleita, em 2017, pela revista Forbes Brasil, um dos 100 brasileiros mais promissores com menos de 30 anos. A RDPN tem propósito comum ao Movimento Black Money: conectar empresas e talentos negros. A partir desse ideal, Lemos já conseguiu construir pontes para centenas de profissionais negros que estavam excluídos do mercado de trabalho.

A mulher negra se movimenta e leva com ela uma sociedade inteira. É mãe solo, lavadeira, atriz, vendedora, empresária. Sua existência e resistência alimentam o mito da “mulher guerreira”, mas a narrativa cai por terra quando observamos com atenção. Identificamos que essas empreendedoras negras estão lutando de forma aguerrida devido ao mercado de trabalho nem sempre lhes oferecer dignidade. Através do empreendedorismo, uma rede de apoio é construída para combater as dificuldades impostas por bancos tradicionais ao financiamento e liberação de crédito, por exemplo.

Senso de comunidade das empreendedoras negras

Lia Maria dos Santos fundou a Diáspora 009 unindo experiências em mais de 25 países, a necessidade após uma demissão e a vocação para empreender. Sua loja cria peças de roupas e a afroempreendedora também escreve para uma revista. A Diáspora 009 atua com moda, design, styling, direção de arte, filmes, ensaios fotográficos, figurino, cenário, curadoria de palestras e oficinas afro-diaspóricas. Ao Correio Braziliense, Lia declarou considerar impossível uma mulher negra empreender de maneira isolada. “Fiz uma exposição na Caixa Cultural e no Centro Cultural do Banco do Brasil, acredito que foi realizado um aquilombamento. Ou seja, fui reencontrando e fortalecendo laços, tanto das minhas redes afetivas quanto da rede ativista e política”.

Para viabililizar o empreendedorismo de mulheres negras, além de linhas de crédito, é preciso o acesso à informações que englobam necessidades essenciais, como: gestão financeira, marketing, fluxo de caixa, gestão de pessoas, estoque, entre outros aspectos essenciais aos negócios. Todos estes fatores ainda são estranhos para grande parte das afroempreendedoras que ainda estão iniciando a dinâmica rumo a se reconhecerem, de fato, como empresárias.

Preta indica preta

O tão famoso QI (“quem indica”) privilegia pessoas brancas, uma vez que, em geral, essas empresas têm em sua hierarquia mais alta chefes brancos. Pessoas negras encontram-se majoritariamente em cargos de auxiliares ou assistentes. Com pretas gerando soluções e comandando os próprios negócios rumo ao crescimento, a possibilidade de continuar formando uma rede de apoio é muito maior. Os exemplos citados acima são prova disso. Empreendedoras negras geram naturalmente estruturas inclusivas em seus negócios para inserção de mais mulheres negras.

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