Com disputa acirrada, novos negócios financeiros investem em identidade para competir com gigantes do mercado
Fintechs apostam numa relação de identidade com o público, associando soluções financeiras a causas sociais
Giulia Costa* e Pedro Capetti
08/12/2019 – 04:30

Gisele Barthar, sócia da loja Pequena África, com a máquina Black Bank Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo

O setor financeiro, tradicionalmente marcado pela burocracia e pela formalidade, está se transformando para conquistar novas gerações. A popularização das fintechs , empresas financeiras de base tecnológica, aumentou a disputa no setor e tem proporcionado serviços cada vez mais segmentados. Para se destacar, alguns desses novos negócios digitais apostam numa relação de identidade com o público, associando soluções financeiras a causas sociais.

A associação do setor contabiliza 697 fintechs no país, mas apenas 13 são registradas no Banco Central . Outras 20 estão na fila. Com maior disputa no setor bancário, ainda muito concentrado no Brasil, duas fintechs lançadas em novembro resolveram focar em dois públicos ainda marginalizados, inclusive no mercado financeiro: o negro e o LGBTI+.

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O movimento Black Money , que busca conectar pessoas negras empreendedoras, lançou a Pretinha, máquina de pagamentos por cartões voltada exclusivamente para negócios comandados por esse público. O objetivo é oferecer taxas mais baixas e subsidiadas a empresários negros para compensar a maior dificuldade de acesso a crédito desse grupo , já apontada em pesquisas.

A Pretinha já pode ser encontrada em mais de 30 lojas em seis cidades brasileiras, mas tem como meta fechar o ano com 100 clientes, de artesãos a médicos negros. A maquininha cobra taxas que chegam à metade das praticadas pelas gigantes do mercado , como Cielo e Rede. Além do alívio no bolso, a iniciativa tenta agregar um valor social ao aparelho, com a difusão de conhecimento sobre negócios.

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— É uma forma de o empreendedor negro ter o serviço com menor tarifação e também um diferencial nas vendas. Quem tem a maquininha também tem acesso a nossos conteúdos de educação financeira. Negros e negras precisam de crédito, mas também de ajuda sobre como desenhar seu business — diz Nina Silva, fundadora da D’Black Bank, fintech por trás da Pretinha.

Empreendedorismo negro
A endocrinologista Michele Fonseca, de 39 anos, que ainda tem poucos colegas negros, adotou a Pretinha para ajudar a fortalecer a iniciativa, mas admite que as taxas pesaram:
— Impacto social importa, mas não é tudo. Não dá para pensar só nisso. É negócio.
Na Pequena África, loja colaborativa que vende produtos de afroempreendedores no Rio, a Pretinha aumentou a margem de lucro com as taxas reduzidas e abriu novas possibilidades de negócios, diz uma das sócias, Gisele Barthar. Ela também destaca o apoio para tomar decisões estratégicas:

— Antes de iniciativas como essa, do Black Money, eu tinha um certo medo na hora de precificar meu produto. Fui perdendo isso, agregando cada vez mais valor.
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Apenas empreendedores negros podem solicitar a maquininha, uma vez que as taxas são subsidiadas, mas o plano de criar uma conta bancária digital com a mesma identidade em 2020 vai contemplar qualquer interessado.

É o modelo do Pride Bank, que começou a operar no mês passado dizendo-se o primeiro banco digital focado no público LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e travestis e intersex) do mundo.
Neste negócio, os simpatizantes são mais que bem-vindos, mas os serviços da fintech foram pensados para clientes como a engenheira que pediu para ser identificada apenas como Fernanda, de 25 anos. Mulher trans, ela ainda se sente incomodada ao lembrar de constrangimentos em bancos tradicionais.

Num deles, teve uma carta com seu nome social, distinto do que consta em seu documento, recusada para a abertura de uma conta.

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No Pride, o cliente pode utilizar nome social e definir o gênero como deseja ser tratado no site ou em correspondências da instituição, por exemplo. Conquistou Fernanda.
— Muitos atendentes de bancos não estão preparados para isso, não estão instruídos e não se interessam em se informar. Na dúvida, preferem dizer que não pode — diz a engenheira. — Isso (ser chamada pelo nome social) me deu mais esperança de ter um atendimento mais cuidadoso, com menos discriminação. Se eu posso escolher, vou ajudar um banco que me valoriza.

Causa unida à estratégia
Além da preocupação com identidade, o Pride promete destinar 5% de sua receita para instituições brasileiras que apoiam causas e eventos voltadas para o público LGBTI+, incluindo héteros que apoiam a causa no alvo da estratégia.

O Pride é resultado da parceria de três sócios com uma fintech especializada em criar bancos digitais. Quando se assumiu gay, em 2015, o diretor executivo e um dos fundadores da empresa, Márcio Orlandi, sentiu a necessidade de unir sua experiência anterior na área de desenvolvimento de produtos digitais em empresas como Accenture e Natura à defesa da igualdade. Foi então que abraçou o projeto. Mas ele admite que também pesou na decisão a oportunidade de desbravar o chamado Pink Money, o alto poder de consumo do público gay:
— Focar nesse nicho é também estratégia de mercado. No país, são 20 milhões de pessoas. Grande parte da comunidade é de profissionais bem-sucedidos, sem filhos, que têm mais dinheiro que a população hétero e investem em seu bem-estar em vários sentidos.

*Estagiária, sob a supervisão de Alexandre Rodrigues

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4 respostas

  1. Já pensaram em uma expansão nacional di D’Black Bank com representantes comerciais espalhados pelo país?
    BORA DAR FOCO E DIVULGAR COM FORÇA !
    Abraço e sucesso

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