O coronavírus e seu impacto ao afroempreendedorismo

O inevitável acabou acontecendo. O covid-19, mais conhecido como novo coronavírus, chegou ao Brasil e agora temos diante de nós duas responsabilidades igualmente importantes: mobilizar os recursos médicos e científicos para atender às pessoas contaminadas e desenvolver procedimentos capazes de minimizar as consequências econômicas da pandemia. 

O problema é complexo porque mexe tanto com o lado racional quanto com o irracional das pessoas colocadas diante de uma ameaça de contágio pelo covid-19. Todos nós temos o instinto natural da autodefesa, mas isso varia de pessoa para pessoa dependendo do seu nível cultural, grau de conhecimentos e do tipo de acesso à informação.

Vide a diferença de comportamento entre a população da província de Wuhan – que foi o epicentro do surgimento do novo coronavírus no mundo. A cidade de 11 milhões de habitantes entrou em completa quarentena e hoje possui números positivos onde 11 dos 14 hospitais construídos estão sendo desativados – e os italianos que não tomaram medidas preventivas em um mês passaram de 3 casos para 15 mil infectados:

Como governo e instituições de saúde informam e direcionam a gravidade da situação é crucial para a efetividade das medidas.

Não se trata de uma simples gripe

Tudo isso pode parecer drástico, e de fato é, mas possui sua razão para ocorrer. Pelo que temos visto ao redor do mundo, o coronavírus leva ao menos 20% de seus infectados a demandarem tratamento hospitalar, com cerca de 5% deles precisando de uma UTI.

Sem qualquer medida para controlar, bastaria que 1% da população brasileira fosse contaminada pelo vírus para que todos os nossos leitos hospitalares fossem utilizados. Neste mesmo cenário, o número de leitos de UTI necessários seria de 100 mil, contra os 44 mil existentes no Brasil hoje.

A taxa de letalidade do novo coronavírus, ou seja, a quantidade de pessoas mortas em relação ao total de diagnosticadas, é de 3,4%. É uma cifra maior que a do sarampo —2,2%— , e bem menor que a do ebola —51%.

Assim como nos casos de gripe e da Sars (síndrome respiratória aguda grave, também causada por um coronavírus), o novo coronavírus costuma vitimar pessoas que tenham moléstias como diabetes (quem tem a doença tem 8,1 vezes o risco de morrer em relação a uma pessoa sem problemas crônicos de saúde), hipertensão (6,7), doenças cardiovasculares (11,7) e doenças respiratórias crônicas (7,0).

Além disso, quanto mais idade a pessoa tiver, maior o risco: aquelas com 80 anos ou mais infectadas pelo novo coronavírus têm 6,4 vezes a probabilidade do resto da população de morrer.

Dos desafios para Economia :

Que o ano de 2020 não será nada fácil é algo já decretado pelo mercado, haja visto o comportamento das bolsas ao redor do mundo. Contudo, algo que me perturba muito mais que a reação dos grandes investidores é a sobrevivência dos pequenos empreendimentos – principalmente dos afroempreendedores.

 
No fatídico maio de 2018, o Brasil parou por cerca de dez dias durante a greve dos caminhoneiros. Ideologias à parte, apoie-se ou não a greve, ela teve um custo, e bem maior que os R$ 12 bilhões em subsídios para o diesel.

Segundo o Ministério da Economia, em um estudo conduzido pela secretária Ana Paula Vescovi, a greve teve um efeito de 1,2% no PIB. Em valores nominais, isso significa que deixamos de criar R$ 60 bilhões em riqueza (número cinco vezes maior que o custo dos subsídios para diesel ao país).

“A epidemia de coronavírus levará a uma recessão global de magnitude nunca antes experimentada, mas eventualmente permitirá que a humanidade redefina seus valores”. Essa frase é da especialista em previsão de tendências de comportamento Li Edelkoort.

Para o caso atual, ainda que seja bastante cedo para definir, a Secretária de Política Econômica (SPE) estima um impacto de até 0,56% de queda no PIB, no pior cenário. Segundo o Sebrae o maior impacto seria nos Pequenos Negócios intensivos em atendimento ao público:

  • Turismo
  • Alimentação fora do lar
  • Feiras livres
  • Varejo tradicional
  • Serviços porta a porta
  • Economia criativa (shows, teatro, eventos esportivos e eventos em geral)
  • Serviços médicos e veterinários
  • Serviços de beleza, cuidados pessoais e estética
  • Serviços educacionais
  • Negócios situados em ruas de comércio, shoppings ou locais de grande circulação
  • Logística (incluindo e-commerce)
  • Serviços de delivery e transporte (coletivos e individuais)

*A comunidade negra tem grande atuação nos ramos de negócios em negrito principalmente como executores.*

No comércio, que movimenta 12% do PIB do país, cada dia parado equivale a R$ 2 bilhões a menos em vendas. Em supermercados e no agronegócio, o problema são os perecíveis. Com restrições à circulação, as vendas caem e muitos produtos não são aproveitados.

Cerca de 5 milhões de brasileiros têm sua renda vinda de algum aplicativo de entrega ou mobilidade, seja Uber, iFood, Rappi etc. E não há seguro que garanta a eles uma renda com a queda nas vendas.

Por mais que  continuem demandando produtos enquanto estão em casa, o número de estabelecimentos fechados tende a crescer, e consequentemente, a demanda pelos serviços desses apps.

A coisa piora para os donos de estabelecimentos. Os salários terão de ser pagos independentemente de o comércio ou a indústria seguirem funcionando diminuindo o faturamento mas mantendo o custo com pessoas e infraestrutura. Por isso resolvemos fazer uma live para explicar dificuldades mas principalmente oportunidades possíveis neste período de trabalho remoto e baixa nas vendas. Meu negócio sobreviverá ao Coronavirus? Como adaptar minha rotina de trabalho?

Participe: (live 18/03 às 19h @ninasilvaperfil )

Perspectivas

Está é uma chance para que nós possamos rever nossos valores e reais necessidades. O impacto do surto nos forçará a fazer escolhas sobre o que e de quem iremos consumir. Nos fará desacelerar o ritmo, trabalhar de nossas casas, nos digitalizar mais , aprender a nos tornarmos auto-suficientes e atentos.

Parece que estamos entrando maciçamente em uma quarentena de consumo, onde o impacto do vírus será cultural e crucial para a construção de um mundo alternativo onde a prática do Black Money possa ser o divisor de águas para a sobrevivência de negócios pretos neste momento de tormentas. 

Esta não é simplesmente uma crise econômica, mas uma possível crise de ruptura. As pessoas param de se movimentar, param de sair, param de gastar, param de sair de férias, param de ir a eventos culturais, até mesmo à igreja! A cada novo dia, questionamos cada sistema que conhecemos desde que nascemos e somos obrigados a considerar sua possível morte. Se podemos considerar a morte de algo que não nos serve, podemos considerar a construção de algo realmente nosso.

Que o ano de 2020 não será nada fácil, parece uma sentença já decretada. Daqui para frente, cabe a nós mesmos decidirmos qual será o rumo de nossa história e de nossa comunidade.

Fontes:
Infomoney
Folha
FFWuol 

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