Kwanzaa é um momento de reflexão, crescimento e planejamento para o futuro, através da lente de sete princípios. Mesmo sendo uma celebração formalizada nos EUA, o importante é o cerne das reflexões realizadas neste período. Sete dias iniciados em 26 de dezembro até 01 de janeiro do ano seguinte, culminando no início de um novo ciclo terrestre mas conectado diretamente a continuidade dos nossos caminhos. Para nós, a reflexão é o processo de usar o passado como veículo para aprender. Analisar o nosso passado nos dá clareza em nossa posição no presente. Reconhecer derrotas e desafios do antes pode ser difícil e desconfortável, mas eles oferecem uma imensa oportunidade para o crescimento. Esta nova fonte de crescimento oriunda da reflexão, da introspecção e do pensamento torna realmente possível criar uma janela para o futuro. Todas as lutas, erros e obstáculos do passado tornam-se aulas no presente, e as lições sempre proporcionam esperança para o futuro. Princípio este também representado por Sankofa, onde nos alimentamos das nossas origens sem medo dos erros e utilizamos do aprendizado para alçar novos vôos.
Mesmo quem não é adepto às comemorações de final de ano não consegue escapar da retrospectiva do que ocorreu e das projeções de anseios para o ano adiante.
O objetivo de Kwanzaa é fazer um brainstorming de uma nova maneira de evoluir e elevar a comunidade, considerando todas as coisas que já vieram antes. Baseado nisso, estamos revisando a montanha-russa que foi 2017 para avaliar o clima para a comunidade negra, na Diaspora das Americas, e avaliar as maneiras mais eficazes de criar mudanças com base nos 7 princípios de Kwanzaa: Umoja, Kujichagulia, Ujima, Ujamaa, Nia, Kuumba, Imani.
UMOJA – UNIDADE E RESISTENCIA EM CONJUNTO
2017 tem sido um ano racialmente carregado, colocando o destaque na questão do atual estado de racismo na América. A corrida foi trazida de volta à conversa graças aos protestos, e às travessias, e contestações, onde defendemos as injustiças contra a comunidade negra e destacamos os padrões e os sistemas de opressão. Vimos essa unidade, ou Umoja, na celebração do 1º MIPAD – Most Influential People African Descendent (grande exemplo foi o crownfunding patrocinada por amigos, empresários e público que propiciou a ida de uma das premiadas Adriana Batista, fundadora da Feira Preta), no lançamento do programa de mentoria da Rede de Profissionais Negros onde mentores e mentorados, em uma ação de 3 meses totalmente gratuita, puderam desenvolver competências e resistências para melhor enfrentamento das necessidades no mercado de trabalho.
Um marco de 2017 com projeção internacional foi o apoio de artistas, de jogadores da NFL e de grupos da sociedade civil estadudinense que se uniu e se ajoelhou em solidariedade com Colin Kaepernick.
KUJICHAGULIA – AUTO-DETERMINAÇÃO
Para quem não sabe, Colin Kaepernick é o ex-quarterback do San Fransisco 49er’s que usou sua plataforma como atleta influente para abrir uma conversa sobre acabar com a brutalidade policial. Originalmente, Kaepernick sentou-se durante o hino, mas começou a se ajoelhar há mais de um ano em 2016. Kaepernick afirmou que não iria “ficar de pé para mostrar orgulho em uma bandeira para um país que oprime pessoas negras e pessoas de cor”. O protesto foi encontrado com rechaço e ressentimento de alguns, mas sinais de apoio dos outros. O clima controverso custou a carreira a Kaepernick, de repente nenhuma equipe o contratou mais, em parte por causa da conversa que seus protestos trouxeram à NFL. Ao longo do escrutínio, o assédio e a reação, apesar de custar sua própria carreira profissional, Colin Kaepernick estava determinado a fazer tudo o que podia para usar sua voz para acabar com a opressão dos negros. Kaepernick exemplifica Kujichagulia – a sua convicção de fazer o que foi certo não vacilou a qualquer momento e não importa o custo.
“A negritude deve encorajar o negro a não ter medo de ser negro, porque ser negro não é nenhum castigo, quer deus, quer da natureza.”
UJIMA – TRABALHO COLETIVO, CONSTRUINDO JUNTOS
Como comunidade, entendemos que cabe a nós cuidar de nós mesmos e parte disso é trabalhar cooperativamente para nos responsabilizar por fazer mudanças verdadeiras. É por isso que nos empurramos um ao outro para ser o melhor que podemos e continuamos a fazer e proporcionar qualquer oportunidade de mudança. Um dos veículos mais valorizados para a mudança é a educação e as parcerias com Diáspora Black, Capitalismo Herdeiro, Vale do Dendê e BRGAfro que nos permitirão desenvolver campanhas e ações para a comunidade em temas importantes, incluindo educação financeira, dicas de economia, hábitos inteligentes de dinheiro, além de acesso a informações sobre inovação e tecnologia. Estamos extremamente gratos aos nossos parceiros e a sua dedicação à missão de restaurar a comunidade negra e criar riqueza negra. Que o novo ano nos traga mais oportunidades para a Ujima e que nossos esforços colaborativos farão a diferença na vida das pessoas em nossa comunidade.
UJAMAA – ECONOMIA COOPERATIVA, FUNDRAISING
A economia cooperativa é o principal princípio por trás do Movimento Black Money. O gasto negro no ano de 2017 é estimado em R$ 1,3 trilhão, mas este dinheiro nunca vê nenhum benefício para a comunidade porque o dinheiro é gasto em outros lugares em grandes empresas e cadeias de propriedade de predominantemente brancos. A ideia por trás da compra de negros em empreendimento de negros e de investir e movimentar seu dinheiro em instituições bancárias de outros negros é manter o dinheiro na comunidade pela primeira vez, oferecendo empregos em nossa comunidade, aumentando a renda média, trazendo mais oportunidades para mais empreendimentos de negócios e expansão, e depois gastando esse poder de compra maior em lugares diferentes do que empresas gigantes sem interesse na comunidade.
O recurso de arrecadação de fundos próprios é também outra aplicação da economia cooperativa, Ujamaa, porque todos podemos compilar recursos para manter uma causa. Por exemplo, o Fundraising do Capitalismo Herdeiro + Gambatte, apoiado pelo MBM e outros grupos, arrecadou R$ 10.000 para iniciativas voltadas para educação financeira e profissionalização no sistema financeiro de pessoas de baixa renda.
NIA – OBJETIVO, USANDO A HISTÓRIA PARA CONFIGURAR OBJETIVOS PARA O FUTURO
2017 trouxe muitos destaques, mas também provocou muitas lutas. Desastres naturais e eventos fora do nosso controle ocorreram e mergulharam as pessoas no sofrimento, causando numerosos contratempos. No entanto, nos tempos difíceis é inestimável poder ainda tirar a esperança dos obstáculos que enfrentamos. O momento presente em que nos encontramos é e sempre será moldado pelas lições aprendidas com o passado. Aprender e educar-nos no nosso passado nos ajudará a preparar-se para o futuro. Usamos a história para examinar o que aconteceu no passado. Usamos a história para entender como o tempo compôs problemas do passado e complicou nosso presente. Usamos o histórico para traçar o nosso futuro. Podemos usar a história, as lutas deste e dos últimos anos, lembrar-nos de nossa Nia ou propósito, estabelecendo metas para o futuro.
Para chegarmos em nossos objetivos enquanto comunidade negra apoiamos o uso de espelhos, onde outros negros e negras nos fortalecem pela representatividade. Em 2017 tivemos a visita do ex presidente dos EUA, Barack Obama, além de algumas reportagens denunciando a realidade da população negra, a miséria que ainda assola os 10% mais pobre do país e a falta de integrantes em camadas de maior impacto econômico e social nas instituições publicas e privadas. Ter tido Rachel Maia, Viviane Elias, Conceição Evaristo, Débora Santos, Flávia Roberta, Fernanda Leoncio, Djamilla Ribeiro, Maite Lourenço, Geraldo Rufino, Adriana Barbosa, Luana Genot, Celso Athayde, Taís Araujo, Lazaro Ramos, Paulo Rogério, Patricia Santos, Lisiane Lemos, Monique Evelle e tantos outros negras e negros na mídia e premiações reforçando que Nia é um princípio de motivação e estímulo que corre dentro da comunidade negra e transforma exemplos em ações futuras a partir de representatividade.
O propósito do MBM é a luta pela autonomia financeira e social do povo preto e da emancipação dos negros em Africa e suas diasporas, a partir do fortalecimento do PanAfricanismo com adaptação à realidade de cada territoriedade.
KUUMBA – CRIATIVIDADE
Qualquer problema é simplesmente um pensamento criativo longe de uma solução. À medida que planejamos e avançamos, é importante não apenas falar, mas também ouvir soluções criativas para problemas em nossa comunidade. Permita que sua criatividade seja inspirada e estimulada pelo que outros fizeram, neste ano as celebridades e influenciadores foram criativos sobre sua maneira de se juntar a protestos, causas e arrecadadores de fundos. Jay-Z usou sua audiência para apoiar a ação de Kaepernick para protestar usando roupas de Colin Kaepernick Jersey no palco durante um show. Adriana Barbosa da Feira Preta também tirou um tempo de sua agenda para destacar para um jornal Latino que é impossível falar de empoderamento negro sem falar de Dinheiro. Emmicida também usou sua influência e atraiu a conscientização ao aportar apoio, criando uma linha de moda voltada ao povo negro. No Rio de Janeiro tivemos em 2017 o lançamento dos Afrocriadores, uma cooperativa de empreendedores no ramo da moda com forte apelo à identidade negra da sociedade brasileiro onde denunciam o mercado fashion como altamente racista e elitizado.
Criatividade, Kuumba, pode ser a forma como criamos nossa mensagem e a forma como é entregue. A arte moralista do artista Addonis Parker evoca a criatividade até o universo infinito de esperança e potencial dentro dos olhos de uma de suas criações “Doonie”. Para criar a mudança que procuramos, não devemos perder o nosso Kuumba.
IMANI – FÉ
Fé – Imani, é o princípio final de Kwanzaa, mas sua importância é enfatizada porque o passo final nesse processo reflexivo. Isso é porque a fé é uma das tomadas e sentimentos mais importantes que devem surgir depois de examinar nosso passado e presente para idéias para o futuro. Quando 2017 chegar ao fim, devemos ser preenchidos com fé para o Ano Novo. Cheio da fé que estamos no caminho certo, que compreendemos o nosso passado e presente, e que vamos encontrar as soluções criativas para a mudança. Independente de religião ou como se conecta com seu “sagrado”. A Fé em você e em sua comunidade, em ser um elo de realização e segurança.
Nossa fé, Imani, se traduz em confiança e nossa confiança se traduzirá em progresso. Agradecemos a todos por estarem conosco em 2017, refletindo conosco durante a temporada de férias e esperamos que você esteja ansioso pelo novo ano como nós do Movimento Black Money estamos.
Feliz Kwanzaa!
*Adaptado do original em Ingles*
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