Planejamento financeiro é algo que parece cansativo e chato para muitos brasileiros. Mas isso não é novidade em um país que não lidar com o dinheiro faz parte da tradição cultural.
E vamos combinar, em um país com o tamanho das desigualdades sociais como o nosso, onde mais 68% das pessoas não conseguem nem pagar todas as contas, preocupar com a vida financeira pode até parecer perda de tempo.
Ainda mais, considerando que os negros brasileiros correspondem a mais de 70% da população que vive em condições de extrema pobreza.
Mas não se engane, um bom planejamento financeiro é uma importante ferramenta para diminuir e evitar problemas financeiros. Tanto a nível pessoal quanto no profissional.
Ele pode te ajudar fugir das dívidas, a valorizar o dinheiro e, o mais importante, a realizar seus sonhos. E se você for, ou está planejando se tornar, um empreendedor ou autônomo, ele ajudará você a utilizar bem os recursos, projetar o crescimento do seu negócio e enxergar novas oportunidades.
E isso nos leva a nossa questão principal: pessoal ou empresarial, o que é um planejamento financeiro de fato? Continue a leitura que vamos te contar. Vamos lá?
Qual a função do planejamento financeiro?
Você sabe a diferença entre um sonho e um projeto? Pois bem, o sonho é um desejo nosso, já o projeto são os passos que você irá seguir para realizar o sonho. É exatamente para isso que serve um planejamento financeiro: para alcançar os nossos objetivos.
Em linhas gerais, a função do planejamento financeiro é simples. Assim como uma agenda que você anota os seus compromissos importantes, é um lugar onde você anota todas as suas informações financeiras como: gastos, ganhos, dívidas, poupança e quaisquer outros dados importantes.
Mas ele ainda vai além disso. O planejamento é o lugar onde “definimos quais são os objetivos a serem perseguidos ou priorizados, de quais ações são consideradas as mais efetivas e a seleção de alternativas para solução de problemas imprevistos”.
Qual a importância do planejamento financeiro?
Com certeza, em algum momento, você já ouviu falar sobre os impactos dos estímulos visuais para incentivar o consumo. O processo da atividade cerebral de pensamento acontece na mesma área do córtex visual. Por isso, estamos mais sujeitos a tomar decisões que são reforçadas pelo estímulo visual.
E o que queremos dizer com isso é que do mesmo modo que os estímulos visuais podem te levar a comprar algo, a visualização da sua vida financeira pode se transformar em conhecimento para que você avalie o resultado das suas escolhas. Incrível, não é?
Nesse sentido, o planejamento financeiro é um recurso visual que te dá uma visão ampla das finanças e te auxilia a tomar decisões melhores. Por meio dele você terá um controle financeiro, conseguirá administrar o dinheiro e traçar estratégias para alcançar metas.
Quando fazer um planejamento financeiro ?
É importante que fique claro que o planejamento financeiro não é algo para ser feito só de vez em quando ou para situações específicas.
Ele é algo que deve fazer parte da sua rotina independente de quanto dinheiro você ganha, do tamanho do seu negócio ou se os seus objetivos não envolvem grandes quantias de dinheiro.
O planejamento financeiro é necessário assim como usar roupa. Porém, assim como cada pessoa irá comprar roupas do seu tamanho, o planejamento deve ser adaptado a sua realidade.
Vamos supor que um dos seus maiores sonhos seja fazer uma viagem internacional, mas acredita, como diz a expressão popular, que é “coisa de rico”. Com um bom planejamento financeiro esse sonho pode se tornar realidade.
Quer ver isso de forma prática? Veja os dois exemplos a seguir!
Exemplo 1
Imagine que você trabalhe como freelancer dando aula particular de matemática e, portanto, sua renda é variável e para fazer a viagem no final do ano precisa de R$6000.
Ao organizar sua vida financeira, você descobre que a sua média de ganhos mensal é de R$1000 e R$1,500 em julho e dezembro, meses de recuperação escolar. E que as suas contas comprometem totalmente o seu orçamento. Nesse caso, a viagem parece impossível, certo?
Porém, observando suas contas você identificou: que o seu plano de internet é mais caro do que outros; que grande parte dos gastos com alimentação é almoçando em restaurantes; e que os parcelamentos no cartão de crédito acumularam.
Diante disso, você trocou o plano, passou a almoçar em casa, decidiu não usar o cartão de crédito até que a fatura tenha diminuído, pelo menos, 50% e guardar R$200 dos ganhos de julho e dezembro.
Em um ano, isso representa uma economia de R$3,800 o que não é suficiente para fazer a viagem no final do ano.
Tendo todas essas informações, você percebe que para fazer a viagem você tem três possibilidades: fazer a viagem no ano seguinte e juntar mais dinheiro, começar a procurar mais clientes para aumentar a renda ou procurar outras formas para conseguir uma renda extra.
Independente da decisão final, a viagem passou a ser possível. Percebeu a importância do planejamento financeiro pessoal?
Exemplo 2
Vamos continuar o exemplo anterior como base e imagine que você decidiu que a melhor solução para você é procurar mais clientes e, portanto, o seu objetivo como empreendedor passou a ser aumentar o seu rendimento para R$2000.
Fazendo o planejamento financeiro para o seu negócio, você descobre que o seu lucro bruto é R$1750, mas descontando os gastos fixos com espaço, transporte e material, o rendimento real é de R$1025. Assim, com o preço da hora de aula a R$70, são necessários mais 15 alunos para alcançar a sua meta.
A partir dessas informações e fazendo uma pesquisa de mercado, você percebe que aumentar a quantidade de clientes não é a única opção para aumentar o rendimento. O preço da sua hora aula está mais baixo do que da maioria de existem alguns cursinhos que pagam freelancers para dar aulas particulares.
Diante disso, você decide aumentar o preço, divulgar os seus serviços online, trabalhar para alguns desses cursinhos. Além disso, você negociou com um dos cursinhos para usar o espaço deles com os seus clientes particulares e reduziu R$300 em gastos.
Por fim, resultado dessas decisões que você tomou com base no planejamento financeiro foi o aumento do rendimento líquido não para R$2000 como planejado, mas para R$3200. E agora, com esse aumento você pode pensar em outros desafios para o seu negócio, como, talvez, abrir o próprio cursinho.
Tipos de planejamento financeiro
O planejamento financeiro pode significar a melhoria da sua qualidade de vida, assim como também pode aumentar a perspectiva do seu negócio.
Um erro comum, principalmente para quem está começando como empreendedor, é misturar a vida financeira pessoal com a profissional. Porém, lembre-se que a lógica deve ser a mesma de uma grande empresa: as finanças da empresa não são as mesmas dos donos.
Nem sempre o seu faturamento corresponde totalmente aos seus ganhos pessoais. Você terá despesas com o seu negócio, impostos a pagar ou, até mesmo, com colaboradores.
Da mesma forma, os seus objetivos profissionais não são os mesmos que os pessoais. Na vida pessoal você pode estar planejando ganhar mais dinheiro, fazer uma viagem ou comprar um carro. Enquanto as metas do seu negócio podem ser reinvestir, contratar um funcionário ou conseguir mais clientes.
Por isso, saber algumas das diferenças essenciais entre os planejamentos pode te ajudar na hora de construí-los.
Planejamento financeiro empresarial: passo a passo
A falta de planejamento financeiro é um dos maiores responsáveis pela falta de sucesso da maioria dos empreendedores. Conforme apontado na pesquisa do Sebrae sobre o empreendedorismo no Brasil, grande parte dos empreendedores não fazem ideia do que é e sobre a importância do planejamento.
Mas se ter educação financeira já é algo que poucas pessoas têm, o racismo estrutural e institucionalizado dificulta ainda mais esse acesso à população negra do país.
Por isso, para a CEO da PretaHub, um dos grandes desafios enfrentados por empreendedores negros é obter informações que ajudem a se organizarem financeiramente. Muitos não sabem nem onde encontrar essas informações.
“Temos 131 anos pós-período abolição e, se tem algo que fez com que a população negra sobrevivesse ao racismo estruturado e, muitas vezes, institucionalizado, foi o ato de empreender. Empreendemos há 13 décadas de forma potente, mesmo diante de nossas vulnerabilidades. O que faltam são ações com foco no desenvolvimento do empreendedorismo negro no Brasil”
Pensando nisso, para te ajudar a fazer um bom planejamento empresarial, elaboramos 4 dicas essenciais. Confira!
1- Discrimine seu fluxo de caixa
Ter controle financeiro é muito importante para que você saiba os prazos para pagamento de contas, tal como para identificar quais os gastos essenciais, necessários e supérfluos.
Quanto mais detalhado for o planejamento, mais fácil será estabelecer os seus objetivos empresariais e a decidir quais serão suas ações futuras.
2- Estabeleça metas e prazos
Todo negócio envolve riscos, mas “o risco vem de você não saber o que está fazendo”. É essencial para qualquer negócio saber aonde você quer chegar e enquanto tempo. Sem propor objetivos você pode se sentir desmotivado com o seu negócio.
Quando se trata do financeiro é muito importante agir com estratégia. A definição de metas com prazos te ajuda a ter maior entendimento sobre o que você deve fazer para alcançá-las.
3- Coloque o seu planejamento no papel
Uma forma de fazer isso pode ser com cadernos, planilhas do Excel ou aplicativos específicos para isso. Existem alguns aplicativos com boa avaliação no Google Play com funções gratuitas. Esse é o caso do Mobills, do Organizze, do Yahoo finanças e do Guiabolso.
Após decidir qual ferramenta irá utilizar e colocar todas as informações, analise se os planos de curto, médio e longo prazo fazem sentido entre si. Depois determine quais serão as suas estratégias.
4- Avalie as suas estratégias e aperfeiçoe o planejamento;
Nunca subestime o poder das notícias, pois a partir delas e do seu planejamento que você pode fazer projeções para o negócio.
Caso o cenário alternativo seja pessimista, você pode reavaliar qual a melhor estratégia para executar o seu planejamento financeiro, ou os prazos e, até mesmo, os seus objetivos de curto e médio prazo. Por outro lado, se for otimista, você pode adiantar prazos e complementar os objetivos.
Além disso, também é necessário avaliar se os resultados práticos do seu planejamento estão dentro do esperado. Imagine um cenário em que a data que seus clientes de pagam estão muito distantes da data que você paga as contas. Essa situação pode te levar a ter que pagar contas em atraso com juros, por exemplo.
Nesse caso, se no seu planejamento inicial o objetivo para diminuir gastos era diminuir a compra e o consumo de café, analisando os novos dados você pode decidir que precisa também alterar as datas de pagamento das suas contas.
Planejamento financeiro pessoal: passo a passo
Em suma, a importância do planejamento financeiro pessoal é bem similar do empresarial. Se trata de um documento eficiente que permite o acompanhamento das finanças com o objetivo de administrar o dinheiro, se preparar para imprevistos, solucionar problemas e planejar estratégias para conquistar objetivos
Porém, no âmbito pessoal e familiar, o objetivo do planejamento financeiro é aumentar a qualidade de vida e alcançar os seus sonhos. E, em alguns casos, fazer o planejamento pessoal pode ter carga emocional muito maior, afetando o seu rendimento no trabalho e, inclusive, a sua saúde.
Segundo a PwC, em uma pesquisa 59% dos entrevistados afirmam que têm problemas financeiros e perdem, pelo menos, três horas por semana pensando em dinheiro.
Assustador, certo? Então, se você não quer fazer parte dessa porcentagem e quer ter controle financeiro, nós podemos te ajudar. Confira a seguir as nossas dicas para elaborar um planejamento financeiro pessoal.
1- Anote seus gastos e ganhos;
“O dinheiro é um mestre terrível, mas um excelente servo” – A ideia por trás dessa frase é que você não deve deixar o dinheiro te controlar, mas sim controlá-lo para que ele seja uma ferramenta para te levar onde você quiser chegar.
Liste todos os seus ganhos e rendimentos. Inclusive, os de pequenos valores. Pode parecer irrelevante mas pequenos gastos diários de R$5,00, ao final do mês representam R$150,00.
”Cuidado com as pequenas despesas. Pequenos vazamentos podem afundar grandes navios”.
2- Classifique seus gastos e encare o monstro das dívidas;
Organizadas as suas contas domésticas e os seus ganhos, classifique os seus gastos em essenciais, necessários e supérfluos.
Uma valiosa dica é incluir as dívidas no grupo dos gastos essenciais. Não é possível falar de qualidade de vida estando endividado ou inadimplente. As dívidas podem atrasar ou impedir a conquista do seu sonho e, até mesmo, afetar sua saúde física.
3- Defina quais são seus sonhos e objetivos financeiros;
Esse é um dos passos mais importantes de um planejamento financeiro: colocar no papel tudo que você deseja comprar, conquistar e, não menos importante, fazer.
Um livro novo? Um carro? Uma viagem? Ganhar mais? Independentemente de qual seja as suas metas, um planejamento é o instrumento visual que te permite definir as ações estratégicas para conquistá-los.
Mas lembre-se: se for comprar, dê preferência para os produtos e serviços de pretos. No Mercado Black Money tem uma série de produtos sendo vendidos por gente preta, para o mundo.
4- Elabore o seu planejamento e defina as estratégias;
Até aqui você sabe quais são seus ganhos e seus gastos, classificou seus gastos e sabe o que é indispensável ou não, conseguiu todas as informações sobre as suas dívidas e definiu quais são as suas metas pessoais. Você já tem as informações essenciais para criar visualmente o seu planejamento.
Com essa etapa realizada, você não só compreenderá melhor o seu contexto financeiro como, também, poderá identificar os seus hábitos de consumo, definir as prioridades, prazos e avaliar as possibilidades e soluções para problemas.
O que evitar ao fazer um planejamento financeiro?
Já te mostramos as coisas necessárias para elaborar um bom planejamento financeiro empresarial e pessoal. Mas saber o que evitar é tão importante quanto.
Negligenciar a educação financeira
A educação financeira é o processo que permite melhorar a compreensão em relação aos produtos e serviços financeiros para te ajudar a fazer melhores escolhas.
Por exemplo: uma das metas do seu planejamento financeiro pode ser aumentar os rendimentos. Nesse caso, uma estratégia do seu planejamento pode ser começar a investir. Para isso, você precisará saber quais possibilidades e as ferramentas para decidir o melhor investimento e investir de fato.
Guardar gastos e contas na cabeça para anotar depois
É fundamental alimentar as planilhas! A ciência já provou que a nossa memória é falha e pequenos detalhes podem passar como se nunca tivessem existido. Para evitar comprometer seu planejamento, crie métodos para anotar todas as informações financeiras assim que elas chegarem a você.
Criar metas irreais e não saber diferenciar desejo de necessidade
A cada mil brasileiros, cerca de 89% acreditam que o esforço é garantia de sucesso. Mas infelizmente isso não é totalmente verdade!
Se você definir expectativas fora da sua realidade, o seu esforço provavelmente não te fará alcançar seu objetivo e seu planejamento vai se tornar inviável. Comece com pequenas metas realistas e mantenha os pés no chão!
De acordo com seu progresso, volte no seu planejamento e ajuste suas metas de acordo com sua nova realidade.
Comprometer todo o orçamento financeiro e não ter uma reserva de emergência
Se os gastos estão maiores do que os rendimentos, ou se eles forem apenas suficientes para pagar as contas, você não terá recursos para realizar as metas financeiras.
Para que você tenha sucesso com o seu planejamento financeiro é vital poupar um percentual do orçamento. Poupar proporciona a segurança financeira para conquistar os objetivos ou pode fazer com que isso aconteça mais rápido.
Para além disso, poupar também permite que você tenha uma reserva de emergência para imprevistos e que, quando eles ocorram, você não comprometa o seu planejamento.
Não deixe o planejamento no papel: execute!
Lembre-se que ter um planejamento não é garantia de sucesso. Ele é um recurso que deve ser constantemente aprimorado e ajustado.
E, por fim, com as finanças organizadas e planejamento feito, agora é a hora de tirar as resoluções do papel e as transformar em ações!
Só depende da sua iniciativa, foco e perseverança o momento de gritar ao mundo: “Cheguei lá”.