Preto e Dinheiro são palavras rivais?

Os Movimentos Negros, de maneira geral, nunca produziram uma reflexão mais sólida, ou um manual popular que ensinasse a comunidade negra a lidar com o dinheiro, preto e dinheiro são raramente associados. A preocupação de nosso povo para com a educação financeira é mínima e os motivos para tal desinteresse são diversos, mas acredito que a tutelagem a uma perspectiva branca/ocidental seja um dos  principais fatores.

Observando a história do período da Idade Média europeia para cá (há no mesmo período grande prosperidade em reinos africanos, nunca estudamos o resto do mundo nesse período) vamos inferir que o grande discurso acerca do dinheiro, do lucro era organizado pela Igreja Católica. O dinheiro era interpretado via uma condenação moral, lucrar era pecado. Nota que isso para os outros, já que a Igreja Católica sempre gostou muito de ouro e luxo. –

É preciso aqui ter em mente a Dra. Marimba Ani quando nos alerta que a hipocrisia é uma das formas essenciais do Ocidente na organização e manutenção do seu poder, da sua forma de existir.

Muito da nossa relação descuidada e desinteressada com o dinheiro tem ligação com essa noção de pecado administrado pelo poder católico – o dinheiro como fonte dos males. Além disso a nossa condição de escravizados fazia que a ideia de ter acesso ao dinheiro e pensar sobre dinheiro ser uma insanidade.

Ocorre a mudança na relação entre perto e dinheiro 

A mudança da relação com o dinheiro, pela sociedade branca, foi o iniciado pelo protestantismo, muito bem explicado por Max Weber, onde vê que o protestantismo é quem vai dar ao capitalismo seu espírito. O lucro ora condenável, vira mostra da salvação, principalmente com o Calvinismo. A esquerda anti-capitalista verá no dinheiro quase um diabo e verá na miséria a fonte fundamental para seu projeto “revolucionário” (não esqueçam a Marimba Ani aqui). Tutelado pelas Esquerdas parte do Movimento Negro acreditará que o dinheiro é quase uma caixa de Pandora, na qual se aberta soltará todos os males. Assim, a pobreza se tornará revolucionária, uma condição sine qua non para a possibilidade da justiça, da sede de justiça. Ludibriado por esse pensamento, os Movimentos Negros pouco refletiram sobre o dinheiro, sobre educação financeira, sobre independência financeira, sobre a criação de um polo industrial tecnológico negro.

Porque se educar financeiramente

Acontece que o nosso povo precisa entender sobre investimentos, precisa se educar financeiramente, precisa ver o dinheiro não como um fim em si mesmo, mas como uma ferramenta fundamental para nossa missão de Restabelecer a África como centro civilizatório que voltará a dar ao Homem sua matriz ontológica, ou seja, seu jeito de ser/estar/sentir o mundo. Fato é que os Judeus entenderam isso e hoje estão numa condição mais tranquila do que a do povo preto, fato é que a China entendeu isso e esta numa posição mais autônoma do que a do povo preto, fato é que o Ocidente nunca esqueceu isso e promoveu toda sua civilização em cima da exploração colonial, do roubo, da violação. A comunidade negra precisa ver que preto e dinheiro não são rivais.

Artwork D'Black Money - Artigo preto e dinheiro são palavras rivais

Fato é que hoje, no Brasil, o povo preto consome 1 TRILHÃO e 600 BILHÕES de reais por ano, 25% do PIB, e a quase totalidade deste dinheiro tem ido para financiar um mundo que nos odeia. Por qual motivo não estimulamos nosso Banco Negro, nosso MarketPlace, nosso Clube de Assinatura? Muito criticado por ver no dinheiro um meio positivo para a nossa liberdade o Honorável Marcus Garvey nos deixou lições importantes sobre o assunto.

Marcus Mosiah Garvey que, apesar da imensa luta pela liberdade e igualdade do negro, segue ainda como um verdadeiro desconhecido em todo o mundo. Homem sobre o qual muito pouco, ou quase nada, ouvimos falar em nossos meios de comunicação, mas cujo trabalho foi forte e influente o bastante para fazer com que Malcom X e Martin Luther King se inspirassem em sua luta e movimentassem os Estados Unidos inteiro. Homem que agitou o mundo de tal forma que torna-se estranho o fato dele sequer ser mencionado nos meios de comunicação ou até mesmo nas escolas. 


Das lições 

1 – Sempre deve haver algo com o qual você vai se sustentar na hora da necessidade, você precisa desenvolver reservas financeiras. Dinheiro é o sustento da vida… Ao ganhar dinheiro, o indivíduo nunca deve gastar mais do que recebe, preto e dinheiro podem e devem andar juntos.

2 – Qualquer que seja o montante recebido, você deve ser econômico o suficiente para poupar pelo menos 15 a 20% de sua renda. Não importa se você ganha pouco é necessário organizar seus custos.

3 – Nunca se meta a viver luxuosamente quando vc só pode viver ordinariamente.

4 – Nunca se desfaça de nada de valor que você possa transformar em dinheiro.

5 – Nunca pegue emprestado com juros de ninguém. Se possível, pague suas dividas em um tempo razoável.

6 – Sempre busque o lucro.

7 – Nunca ache que uma coisa ou uma pessoa seja a única opção. É possível que haja sempre outras opções melhores.

8 – Não compartilhe seu dinheiro com ninguém que não seja da sua raça, NUNCA. Se te persuadirem a dar para Deus, pergunte a si mesmo se Deus realmente vai recebê-lo ou se precisa dele…. Deus mesmo não quer dinheiro, mas uma boa causa que ajude a sua comunidade talvez precise. Verifique.

9 – Se algo que é velho, ainda lhe é bom, não compre um novo.

10 – Nunca viva com o capital dos seus negócios, é preciso viver com os lucros que seu negócio gera.

Enfim, precisamos pensar e falar sobre dinheiro. Precisamos educar nossos filhos, irmãos, povo. Precisamos pensar o dinheiro como fundamental ao nosso processo de autonomia e independência.

OBS: Essas lições e várias outras estão presentes no livro “Procure Por Mim na Tempestade” organizado e traduzido pelos irmãos e irmãs do Ciclo de Formação Marcus Garvey (obtenham esse livro).

Um só Povo e um Só Destino.

Jonathan Raymundo.

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teste
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Grupo de homens negros se divertindo

3 respostas

  1. Bom texto, mas incorre num equivoco ao tratar o movimento negro despreocupado e até satanizando o dinheiro. Não é verdade. Sempre houve essa valorização. Ocorre que ninguém se propôs a pensar, refletir sobre tal tema. O movimento negro precisa dessa diversidade temática para melhor avançar nas lutas que travamos

  2. Temos grandes pensadores e idealizadores entre nós, e mais um dos grandes problemas que nos mesmos cultuamos é o de tentar e buscar soluções nos baseando na vida dos brancos. Todos os dias a grande mídia nos empurra goela a baixo suas crenças, valores, meios e modos de vida, sua grana e como gasta-la, e por ai vai. E infelizmente nossas crianças crescem vendo e achando que somente aquele modo e meios de vida são o que também querem. Não sabendo que este de fato é exatamente o que a grande mídia e seus algozes brancos querem, porém fazem e trabalham para que jamais nós negros possam alcançar. Por ser esse um assunto MUITO ABRANGENTE, porém de EXTREMA IMPORTÂNCIA, vou me guardar nesse pequeno comentário.
    Somente mais uma pequena observação, temos que excluir alguns (pretos), do meio de nos NEGROS, pois são lobos vestidos de ovelhas.
    Felicidades a todos!
    Dinho Madureira (Brasília-DF)

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