Qual a imagem dos afrobrasileiros no mercado mundial?

Mesmo após quase 130 anos da abolição da escravidão, ainda vemos a falta de inclusão dos negros na sociedade. Que ainda existe o preconceito, a desigualdade de renda e a baixa representação do negro no mercado de trabalho, nem precisamos comentar. O que deve ser abordado aqui é a seguinte pergunta: o que a população, em geral, tem feito para contribuir com a inserção dos afrobrasileiros na sociedade?

Desigualdade Racial no Dia a Dia

É possível vermos desigualdade racial diariamente nas ruas, nos comércios, nas universidades e principalmente na TV. Na grande maioria das telenovelas brasileiras, os negros só aparecem como coadjuvantes e, geralmente, são pobres, empregadas domésticas ou moradores de favelas. Dificilmente artistas negros ganham papel de destaque ou de protagonistas. Segundo pesquisas somos 4% em papéis significativos na TV.

O modelo de identidade negra que a televisão brasileira apresenta e alimenta é um imaginário de exclusão onde reafirma certos estereótipos do negro na sociedade. Ao contrário do Brasil, nos filmes e seriados norte-americanos temos diversos personagens negros ocupando papéis de protagonistas. Isso ocorre devido ao poder de consumo (black money) conquistado por eles e visibilizado por instituições negras de fomento ao empreendedorismo negro e aos serviços financeiros no entorno da comunidade negra.

Outro exemplo clássico para comparar o Brasil com os EUA em termos de representação é na política. Enumere apenas 2 negros que conquistaram cargos eletivos de destaque …  Não conseguiu, tudo bem. Mesmo com 54% da população não temos líderes negros no Senado e nem na Câmara dos Deputados – enquanto que nos Estados Unidos, Barack Obama foi um dos presidentes mais bem votados.

Racismo que virou costume

Essas simples comparações nos fazem refletir sobre como o Brasil é um país que não olha para nossos interesses como grupo majoritário e de como o preconceito ainda está presente no dia a dia dos brasileiros – mas, como todos já estão acostumados, de certa forma, com essa situação, quase ninguém percebe.

Racistas não são apenas aqueles que agridem verbal ou fisicamente uma pessoa por ser negra. São também todos que observam momentos de desigualdade racial diariamente – como na novela – e se recusam a fazer um esforço para tentar mudar esse cenário. São agressões não verbais nas ruas quando corpos brancos se esquivam ou aumentam seu passo por ver um corpo negro se aproximar.  Quando não sentam no assento vazio no transporte público ao lado de um jovem negro por “prevenção”. São frases e palavras muitas vezes colocadas como ditados populares e repetidas com banalização mesmo se o significado seja de inferiorização ou menosprezo à população negra.

Os afrobrasileiros são a maioria invisível tratada como minoria:

Mesmo os pretos e pardos sendo maioria na população brasileira (cerca de 54% de auto declaração), esse número ainda não retrata a realidade vivida no país. No século 19, por exemplo, o bairro do Leblon no Rio de Janeiro era uma região de quilombos. Hoje é um dos metros quadrados mais caros do Brasil e a maioria esmagadora de seus moradores é branca.

Outro fator que demonstra a cultura do racismo no país é a lei de cotas raciais nas universidades. Por que, mesmo depois de tantos anos da abolição da escravatura, o governo precisa separar um percentual de vagas exclusivas para negros? A resposta é simples e bem enegrecida: porque eles nunca tiveram o mesmo acesso às oportunidades e aos estudos como os brancos no Brasil. E mais, porque o processo de abolição não foi de inclusão e muito menos de reparação para os negros escravizados em quase 400 anos de trabalhos forçados e tratamentos desumanizados. E ainda porque existiam leis que proibiam a população negra o acesso à educação formal num país onde o racismo sempre restringiu as relações econômicas e de poder da população negra,  fazendo com que o conceito de meritocracia seja distorcido em um simples exame de qualificação através de notas fora do contexto para ingresso ao sistema universitário público do país.

Reconhecimento do negro dentro e fora do Brasil:

Muitas culturas e simbologias brasileiras reconhecidas nacional e internacionalmente vieram dos negros como o samba, a feijoada, a capoeira mas a inserção da população negra como reais proprietários desenvolvedores desta nação não chegou. Não cabe mais sermos limitados apenas nas áreas de cultura e esporte. Sim, somos ótimos nestas frentes e não queremos deixar de ter essas referências mas também possuímos iniciativas que devem ser reconhecidas e tornadas tangíveis para trocas e fortalecimentos dentro e fora do Brasil.

Casal Lázaro Ramos e Taís Araújo, representantes da população afrobrasileira

Equipe MBM - Movimento de fortalecimento da população afrobrasileira

Este ano foi realizada a primeira edição do MIPAD – Most Influential People of African Descendent onde tivemos três representantes de peso na lista dos 100 negros mais influentes do mundo fora do continente africano. A lista conta com Adriana Barbosa (fundadora da Feira Preta, maior festival de negócios e cultura negra da América Latina), o ator Lázaro Ramos e  a atriz Taís Araújo, os três premiados na categoria Cultura e Mídia.

O que nos leva a reflexão: somos o maior país de população negra fora do continente africano, ou seja, teríamos que ter um número expressivo de premiados nessa lista. Além disso somos o segundo país com maior população negra em todo o mundo, perdendo apenas para a Nigéria, o que reforça a necessidade de melhor visibilidade das ações e empreendimentos negros brasileiros para as mídias nacionais e internacionais. As demais categorias do MIPAD não tiveram negros brasileiros contemplados em 2017: Negócios e Empreendedorismo, Religião e Humanitarismo, Política e Governo. Preocupante pois a própria Feira Preta é um agente do ecossistema afroempreendedor de grande desenvolvimento, no entanto muitas vezes é reduzida à imagem de um festival apenas Cultural.

 

Most Influential People of African Descendent

Artwork Década internacional de afrodescendentes

Situação atual da população negra no Brasil

Estamos na Década Internacional dos Afrodescendentes segundo a ONU (2015 à 2024) e o Brasil continua sem números expressivos de evolução quando se trata de emancipação da população negra. Nosso crescimento econômico, social e político passa também pela imagem que refletimos para o mundo, os impactos do racismo estrutural que limita a visão da sociedade sobre a capacidade do afrodescendente em categorias de atuação devem ser combatidos e disseminados.

É momento de fomentar, desenvolver e empoderar de verdade as pessoas e instituições que irão verdadeiramente nos representar, converter nosso poder de compra em afroconsumo e praticar o Black Money no real sentido do Ubuntu onde juntos somos mais fortes. É momento de movimento e de agir com estratégia.

Seja parte da mudança.

Equipe MBM

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Uma resposta

  1. Prezados senhores,

    Acredito que tenhamos que mudar um pouco, a forma de colocarmos nossos anseios.

    Primeiramente, creio que direito não se pede, se conquistam. Direito é um ato opcional, o exercemos ou não. E, não o exercemos, não estaremos obrigados a nada.

    Já a obrigação é compulsória, se não a cumprimos, somos forçados a executá-la, sob pena, de que se assim não fizermos, sofreremos sanção por isso.

    “Mesmo após 130 anos da abolição da escravidão, ainda vemos a falta de inclusão dos negros na sociedade. O que a população, em geral, tem feito para contribuir com a inserção dos afrobrasileiros na sociedade?”
    Quando leio este texto, gostaria de fazer uma alteração que reproduzirá o meu pensamento:”O que a população AFROBRASILEIRA, em geral, tem feito para contribuir com a inserção dos afrobrasileiros na sociedade?”

    Creio que não deva ser o Brasil que tenha que olhar para os nossos interesses como grupo majoritário. Se assim o somos, por qual motivo teremos que pedir à sociedade leis de alforria, se isso compete a nós mesmos.

    Nisso, poderemos comparar o Brasil com os Estados Unidos, onde os negros americanos competem, no geral, em igualdade de capacidade intelectual, na disputa de cargos públicos e privados.

    Por isso, acredito que nossos pleitos devam observados sob a ótica da obrigação de alcançá-los e se não a fizermos, seremos punidos e não pela ótica do direito, pois sempre estaremos dependentes da vontade daqueles que não nos aceitam com naturalidade.

    Creio que a meritocracia é a arma que devemos portar conosco, posto que, não depende de autorização do poder público e nem da sociedade, em geral.

    A nossa maior arma de libertação e reconhecimento está na EDUCAÇÃO.

    Pois essa é a mais poderosa arma para o reconhecimento de valor do ser humano.

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