Em um país de grandes desigualdades sociais e raciais, como é o caso do Brasil, as oportunidades não chegam a todas as pessoas de forma equilibrada. Diante disso, o empreendedorismo negro se tornou uma importante saída para quem não consegue um bom emprego ou mesmo para aqueles que desejam fazer a diferença em suas comunidades. Diante disso, vamos abordar o tema “Por que ter o próprio negócio é a saída para pessoas negras”.
Vamos explicar porque tantas pessoas pretas se tornam empreendedoras, mesmo que na informalidade e qual é o perfil predominante desse público. Além disso, vamos falar sobre como a pandemia do coronavírus afetou o empreendedorismo negro e como o povo preto tem feito para superar esse momento de crise.
Por que cada vez mais pessoas negras empreendem?
O empreendedorismo tem sido a alternativa escolhida por muitas pessoas pretas, principalmente as periféricas, para obter o sustento e melhores condições de vida para as suas famílias. São vários os motivos que justificam essa tendência, entre eles, trouxemos aqueles que mais se destacam. Acompanhe.
Dificuldades em se inserir no mercado de trabalho
O primeiro motivo mais relevante para que as pessoas pretas decidam montar seu próprio negócio é a dificuldade em se inserir no mercado de trabalho. De acordo com dados do IBGE, a taxa de desocupação entre as pessoas negras no país é de mais de 14%, enquanto entre as pessoas brancas esse índice cai para 9%.
Os fatores que influenciam nesses dados são bastante variados, e vão desde a falta de estudos e capacitação adequados até questões relacionadas ao local de moradia das pessoas periféricas, que tende a ser mais distante dos grandes centros e requer muito tempo de deslocamento e altos custos com transportes.
Falta de oportunidades em ocupações melhores
Mesmo as pessoas que conseguem se inserir no mercado formal de trabalho acabam esbarrando em outra dificuldade que é a de ascensão na carreira. De acordo com a PNAD Contínua de 2019, a renda média mensal da população brasileira é de R$2.308,00. Quando aplicamos o recorte racial, pessoas brancas recebem, em média, um valor 29,9%maior que essa média (R$2.999,00) enquanto pessoas pardas recebem 25,5% a menos (R$1.719,00) e as pretas 27,5% (R$1.673,00).
No dia a dia das empresas, isso se reflete em menos pessoas negras em cargos mais altos na hierarquia organizacional, tomando decisões, contratando mais negros e criando mais oportunidades de crescimento profissional para o nosso povo.
Engajamento na luta por equidade racial
Outra vertente de empreendedorismo negro que tem se expandido bastante está relacionada à luta direta por equidade racial. Esses empreendimentos, em sua maioria, estão concentrados na periferia e buscam reafirmar a identidade do povo negro por meio de sua cultura, culinária e arte.
São pequenos negócios que empregam pessoas pretas e que, assim, ajudam a reverter os efeitos excludentes do mercado de trabalho das grandes cidades. Ao mesmo tempo em que geram mais oportunidades de trabalho, essas empresas fortalecem a luta antirracista de forma prática e eficiente.
Qual é o perfil do empreendedorismo negro?
O perfil do empreendedorismo negro no Brasil pode ser considerado, basicamente, o oposto do perfil geral observado no mercado. Veja os principais pontos de destaque abaixo.
Maioria de mulheres
Uma pesquisa realizada pela Pretahub sobre o empreendedorismo negro no Brasil mostrou que a maioria dos negócios pretos são tocados por mulheres. Em outra pesquisa, organizada pelo Sebrae, foi revelado que esses negócios representam 17% do total no país e que, entre essas mulheres, quase metade (49%) são as responsáveis financeiras pelo seu núcleo familiar.
Faturamento menor que empreendedores brancos
Ainda segundo a pesquisa do Sebrae, as empreendedoras negras recebem o equivalente a metade do que as empreendedoras brancas e apenas 42% do que é faturado por homens brancos. O que mostra que a quantidade de dinheiro que circula entre a população negra ainda é muito pequena, afetando a relação de força e poder de mudança das questões sociais e raciais que vivemos.
Formalizados e autogestores de suas finanças
No que tange à formalização, apesar do Sebrae ter identificado que apenas 21% das empreendedoras negras pesquisadas são formalizadas, no estudo feito pela Pretahubm exclusivamente com empreendedores negros, mais da metade (54%) possuem CNPJ e esse percentual sobe para mais 60% nos perfis que não empreendem apenas por necessidade.
Como as pessoas pretas que empreendem estão superando a crise causada pela COVID-19?
2020 foi um ano completamente atípico na história da humanidade. A pandemia do novo coronavírus afetou a economia de todo o mundo e as medidas sanitárias necessárias para conter o vírus causaram grandes perdas comerciais e, consequentemente, um aumento no desemprego e nas oportunidades de trabalho.
Do ponto de vista do empreendedorismo negro, algumas particularidades forma muito importantes para ajudar na sobrevivência e até mesmo crescimento dos negócios, como vemos a seguir.
Rede de apoio nas comunidades periféricas
Uma forte característica encontrada na grande maioria das comunidades periféricas é o senso de comunidade, herdado da cultura dos povos africanos que foram escravizados aqui no Brasil. Esse elemento foi fundamental para que essas comunidades agissem de forma colaborativa durante a pandemia.
Enquanto uns adaptavam seus negócios à nova realidade, como costureiras que passaram a fazer máscaras e restaurantes que começaram a vender marmitas, outros ajudavam com a arrecadação de doações e prestando serviços a quem mais precisava.
Uso de tecnologias mais acessíveis
Sem sombra de dúvidas, 2020 foi um ano de aceleração do uso da tecnologia. Os negócios pretos passaram a utilizar mais as ferramentas mais simples, como o WhatsApp e redes sociais para realizar suas vendas e manter o contato com seus clientes. Afinal, foi preciso se reinventar dentro de uma realidade limitada tanto para empreendedores quanto para seus consumidores.
Criatividade nas adaptações
Por fim, não podemos deixar de exaltar a criatividade do povo preto. Desde sempre tivemos que usar da nossa inteligência para sobreviver às limitações impostas a nós pela sociedade, não seria agora que isso mudaria.
Por todo país, podemos encontrar casos similares aos relatados pelo portal UOL, como o da Didi, que fazia marmitas congeladas, perdeu quase toda a clientela e passou a vender salgados congelados. Ou da Tânia, que tinha uma loja de roupas de crochê e montou um catálogo virtual para vender suas peças pelas redes sociais e WhatsApp.
Como vimos, o empreendedorismo é a principal saída encontrada por nós negros para termos a nossa real independência financeira. Aos poucos, vamos conquistando nossos espaços e retomando nosso lugar de direito na economia do país.
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Uma resposta
Eu sempre defendi o empreendedorismo como fonte de renda. E depois de mais de duas décadas empreendendo e ajudando empreendedores eu provo que isso é possível. O futuro e sombrio no tocante ao mercado te trabalho.
att. Amilton Muniz