Segundo a Oxfam, a elite mais rica do mundo opera uma política de desigualdade às custas principalmente de mulheres e meninas pobres que passam boa parte de suas vidas em trabalhos domésticos e de cuidados sem remuneração ou serviços públicos de qualidade para ajudá-las.
A pesquisa também demonstra que a desigualdade global está em níveis recordes e o número de bilionários dobrou na última década.
Mulheres fazem 75% de todo o trabalho de cuidado não remunerado
As mulheres são responsáveis por mais de 75% de todo trabalho de cuidado não remunerado do mundo. E frequentemente trabalham menos horas em seus empregos formais ou tem que abandoná-los por causa da carga horária com o cuidado.
Em todo mundo, 42% das mulheres não conseguem um emprego porque são responsáveis por todo o trabalho de cuidado. Entre os homens, esse percentual é de apenas 6%.
As mulheres também são maioria na força remunerada de trabalho de cuidado. Enfermeiras, faxineiras, trabalhadoras domésticas e cuidadoras são em geral mal pagas, têm poucos benefícios e trabalham em horários irregulares.
Dados apontados no relatório
- Os 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas (60% da população mundial).
- Os 22 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que todas as mulheres da África.
- Mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado. Isso representa pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia global. O valor é mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo.
- Se o 1% mais rico do mundo pagasse uma taxa extra de 0,5% sobre sua riqueza nos próximos 10 anos seria possível criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e assistência para idosos.
O relatório aponta para um tema invisível, mas que é um dos combustíveis que alimentam essa engrenagem: as economias do mundo são sexistas. Contudo, o cotidiano brasileiro traz novos desafios — e por motivos conhecidos —, a cor da pele.
Da realidade brasileira
O rendimento médio mensal de trabalho da população 1% mais rica foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre em 2018. Enquanto a parcela de maior renda arrecadou R$ 27.744 por mês, em média, os 50% menos favorecidos ganharam R$ 820 – Pnad Contínua
No Brasil a raça e o gênero influenciam em quanto cada pessoa pode e consegue acumular ao longo da vida. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta, por exemplo, que a remuneração média de um homem branco é mais que o dobro daquela de uma mulher negra. O salário integral delas equivale a apenas 44% do salário deles.
Renda do brasileiro
Gênero/cor da pele | Salário médio |
Homem branco | R$ 3.138 |
Mulher branca | R$ 2.379 |
Homem preto/pardo | R$ 1.762 |
Mulher preta/parda | R$ 1.394 |
Fonte: IBGE
Se o salário de um grupo é tão maior que o do outro, parece um tanto óbvio que isso vai afetar a capacidade de cada extrato economizar para criar um estoque de riqueza e consequentemente para aposentadoria.
Um salário mais baixo implica em capacidade menor de investir, porque afeta diretamente a sobrevivência – capacidade de suprir suas necessidades básicas – mais difícil ainda fazer com que sobre dinheiro.
Não há muita dúvida: quando não se ganha o necessário, o aporte periódico nas aplicações financeiras é menor, as metas de acumulação de capital costumam ficar mais distantes e difíceis de alcançar. Sem falar que com o cenário desfavorável ao investidor conservador, com taxa de juros na mínima histórica, a situação se agrava.
A diferença de cor de pele traz um prejuízo ainda maior que a de gênero quando se trata de capacidade de geração de renda e acumulação de capital. Por isso devemos focar nossos esforços em políticas e ações focadas em RAÇA.
Da acumulação de riquezas
Tomando como base os dados do IBGE, em 30 anos, a diferença de patrimônio acumulado entre um homem branco e uma mulher negra chegaria, no cenário mais extremo, ao equivalente a R$ 790 mil em valores atuais.
A conta considera apenas investimentos conservadores, considerando o cenário atual de juros básicos na mínima, e ganhos reais de 1,5% ao ano.
“Numa hipótese em que o homem branco e a mulher negra gastassem cada um R$ 1.394 por mês para sobreviver e investissem o que sobrasse, ela teria zero e ele teria R$ 790 mil em 30 anos”, explicou o planejador D’Angello ao Valor.
Dentro dessa lógica, entre homens e mulheres negros, a diferença de patrimônio cairia para R$ 167 mil a mais para eles. Entre mulheres, as brancas teriam um montante de R$ 447 mil a mais que as negras. Já comparando homens e mulheres brancos, eles acumulariam cerca de R$ 345 mil a mais que elas.
As soluções para nosso povo
Se para quem sai em vantagem nas estruturas sociais alcançar o primeiro milhão ou aposentar-se com dignidade já é um caminho cheio de obstáculos, para a comunidade negra torna-se uma barreira quase intransponível.
Hoje quem possui um patrimônio acima de 200 mil reais “já está acima da média”, mas a desigualdade é tão acentuada no país, que as grandes riquezas com patrimônios são aquelas acima de um milhão, exatamente onde deveria começar a incidir o imposto sobre grandes fortunas.
A tributação sobre patrimônio permitiria, de um lado, que o Estado viesse a arrecadar mais receita para investir em políticas públicas e, de outro, a redistribuição do patrimônio que atualmente está concentrado. Com a reforma tributária sendo orientada por uma lógica de substituição de impostos, melhoraria os bons impostos e reduziria os impostos ruins. “Com isso seria restabelecida a capacidade do Estado de não só arrecadar recurso para as políticas públicas, mas de reduzir as desigualdades no âmbito da tributação”, diz o especialista André Calixtre do IPea
Levanto este tema pela necessidade de nossa comunidade organizar-se em duas grandes frentes – Política e Econômica. Devemos participar do campo das decisões políticas para termos representantes advogando em nosso benefício em relação às Reformas, especialmente a Tributária, e participar ativamente no desenvolvimento de um empresariado negro.
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